A sociedade está a mudar e a acreditar que pode ter intervênção na vida politica.
A frase é do João Nobre, conterrâneo e camarada do Planeta Mafra, e eu gostava de concordar com ela. Mas não concordo e olhando para o contexto em que a escreve ainda tenho de discordar mais.
O João faz aquela afirmação baseando-se nos Movimentos de Cidadãos que concorreram às eleições em Lisboa e dá a entender que a sociedade só pode intervir na vida política por esta via.
Com a primeira parte ainda posso concordar parcialmente, é um facto que as candidaturas independentes deram lugares a pessoas que de outra forma não os teriam, mas também é um facto que, especialmente nas autarquias, as pessoas votam mais em quem encabeça a lista do que na lista essas pessoas não foram eleitas. Helena Roseta é uma dissidente do PS, que decidiu avançar porque o partido não a quis e teria perdido para Carmona se avançasse. Já Carmona é mais um refugiado do que um dissidente.
Já com a segunda parte não posso concordar, eu quando quis começar a intervir na vida política tornei-me militante do partido com que mais me identifico. Não digo que seja fácil entrar num partido e fazer alguma coisa, na altura tive sorte de encontrar pessoas com as quais me identifiquei e isso, juntamente com muito empenho, ajudou-me. Isto para dizer que só não entra na vida política quem não quer.
O grande problema e ameaça dos partidos políticos não são os independentes mas sim a obsessão pelo poder. Esta obsessão não se manifesta dentro dos Movimentos de Cidadãos, porque os movimentos são criados para agir num curto espaço temporal, e como tal não os mina como acontece nos partidos.
Quem tem poder muitas vezes cai na tentação de se preocupar tanto em o manter que às tantas perde a noção do que primariamente queria fazer com ele. É assim que surgem os saneamentos das vozes divergentes, é assim que surgem os jogos de bastidores que fazem rolar cabeças e é assim que não se aproveitam pessoas que muito poderiam dar aos partidos.
Se todos os que criticam os partidos participassem activamente num estou certo que todos seriam melhores, é que há muita gente que prefere chutar para canto do que ter responsabilidade no que diz.
Com o panorama político português bipolarizado praticamente desde a instauração da democracia e com motivos para descontentamento, os cidadãos podem e devem participar sem chancela partidária.
É importante que a renovação de estatutos ou revisão nas ideologias fomente e defenda o nosso modelo partidário de democracia.
Mas o ideal numa democracia parlamentar republicana é a intervenção cívica sem que para tal deva haver a necessidade intrínseca de aderir a qualquer instituição política para que a sua voz, a opinião individual, tenha peso por si só.