Os “independentes” e os partidos

A sociedade está a mudar e a acreditar que pode ter intervênção na vida politica.

A frase é do João Nobre, conterrâneo e camarada do Planeta Mafra, e eu gostava de concordar com ela. Mas não concordo e olhando para o contexto em que a escreve ainda tenho de discordar mais.

O João faz aquela afirmação baseando-se nos Movimentos de Cidadãos que concorreram às eleições em Lisboa e dá a entender que a sociedade só pode intervir na vida política por esta via.

Com a primeira parte ainda posso concordar parcialmente, é um facto que as candidaturas independentes deram lugares a pessoas que de outra forma não os teriam, mas também é um facto que, especialmente nas autarquias, as pessoas votam mais em quem encabeça a lista do que na lista essas pessoas não foram eleitas. Helena Roseta é uma dissidente do PS, que decidiu avançar porque o partido não a quis e teria perdido para Carmona se avançasse. Já Carmona é mais um refugiado do que um dissidente.

Já com a segunda parte não posso concordar, eu quando quis começar a intervir na vida política tornei-me militante do partido com que mais me identifico. Não digo que seja fácil entrar num partido e fazer alguma coisa, na altura tive sorte de encontrar pessoas com as quais me identifiquei e isso, juntamente com muito empenho, ajudou-me. Isto para dizer que só não entra na vida política quem não quer.

O grande problema e ameaça dos partidos políticos não são os independentes mas sim a obsessão pelo poder. Esta obsessão não se manifesta dentro dos Movimentos de Cidadãos, porque os movimentos são criados para agir num curto espaço temporal, e como tal não os mina como acontece nos partidos.

Quem tem poder muitas vezes cai na tentação de se preocupar tanto em o manter que às tantas perde a noção do que primariamente queria fazer com ele. É assim que surgem os saneamentos das vozes divergentes, é assim que surgem os jogos de bastidores que fazem rolar cabeças e é assim que não se aproveitam pessoas que muito poderiam dar aos partidos.

Se todos os que criticam os partidos participassem activamente num estou certo que todos seriam melhores, é que há muita gente que prefere chutar para canto do que ter responsabilidade no que diz.

Acabou o circo em Lisboa

Das 12 candidaturas ao executivo lisboeta apenas a de Carmona saiu verdadeiramente vencedora, o segundo lugar para quem, numa primeira fase, teve dificuldades em reunir os apoios necessários para se candidatar só pode saber a vitória.

Ao PSD coube o que se esperava e que foi merecido, uma derrota de tal forma estrondosa que ficou atrás de Carmona, o “chosen one” de Marques Mendes em 2005 e que agora havia sido condenado sem direito a julgamento. Mas tirá sido esta derrota uma vitória para o PSD? Será desta que vamos ver um verdadeiro líder à frente do partido? Como social democrata espero que sim, mas receio que Menezes seja apenas um populista e Aguir Branco demasiado discreto (quem é que se lembra dele?).

Helena Roseta percebeu da pior forma que os 73 mil votos que Alegre teve em Lisboa não lhe pertenciam, ainda assim conseguiu eleger-se e levar acompanhante. O discurso anti-partidário que teve não a favoreceu, fica mal alguém criticar o sistema partidário quando passou a maior parte da sua vida num partido.

O PCP ficou na mesma, e Ruben de Carvalho continua a não precisar de ir à procura de emprego.

Continuam a haver 13 mil eleitores que consideram que o “Zé faz falta”, felizmente são menos 9 mil do que em 2005. Esta é a candidatura que mais se deve preocupar com a descida real de votos, aqui está a prova que as pessoas não querem um bufo, que mais não faz do que travar tudo em que se consegue pôr no caminho, se quem elegeu Sá Fernandes no passado achasse que ele realmente faz falta à capital então o seu resultado teria sido muito melhor.

O CDS/PP tem de começar a perceber que precisa de ser mais CDS e menos Paulo Portas, nunca acreditei neste regresso de Portas e este resultado demonstra que em Lisboa muito poucos acreditaram. O afastamento de Nogueira Pinto, que era bem vista como vereadora, também não ajudou em nada a contagem final de votos em Telmo Correia.

Do outros convém apenas realçar a quase duplicação do número de votantes no PNR que ficou à frente de Manuel Monteiro.

Quanto a António Costa, o novo Presidente da CML vai ter um sério desafio pela frente, sem maioria no executivo e com uma Assembleia Municipal hostil, receio bem que desta é que Lisboa pára durante dois anos enquanto a delegação de Sócrates se vai queixando de querer fazer mas não conseguir por culpa das forças de bloqueio.

Talvez o circo apenas agora tenha começado…