Nem todos os Zés podem ser empreendedores

Algumas pessoas ficam incomodadas quando me ouvem dizer que muitas mais empresas vão falir em Portugal porque simplesmente não têm condições para existir. É duro, mas é a realidade: temos um tecido empresarial fraco, mal preparado e que rouba espaço a outras empresas que poderiam nascer, ser mais fortes, mais eficientes e mais produtivas.

Hoje anda por aí muita gente animada com um artigo intitulado “O Zé não é empreendedor“. O artigo tem uns gráficos bonitos e tudo, mas é uma falácia.  O problema do artigo é que ao identificar um dos problemas em se ser empreendor em Portugal – a elevada carga fiscal – acaba por cair nas armadilhas em que muitos empresários (sem capacidade para o serem) caem.

A empresa que seria criada pelo Zé, tal como é descrito, cai na categoria de empresas destinadas a falir: é uma empresa com um único produto que serve apenas a um único cliente. Podia ser uma boa ideia, mas aparentemente é só meia ideia. Vou tentar saltar os erros do artigo em questão (contas mal feitas ou deturpadas, incoerências no enunciado, o facto de a mente brilhante que desenvolve um produto apenas conseguir emprego num call-center, etc.) e focar-me nas armadilhas.

Primeira armadilha: achar que uma ideia, só por ser boa, é um bom negócio

É dito no artigo que o Zé desenvolveu um “hardware especial adaptado a empresas que fazem apps”. Existem milhares de “empresas que fazem apps” mas o Zé considera que o negócio corre bem só porque consegue encontrar um único cliente  e que ainda por cima lhe impõe o preço. Ou ideia não é assim tão boa ou então resolve um problema que afinal não afecta assim tanto as “empresas que fazem apps”. Existe uma terceira hipótese: o Zé não tem jeito para vender o seu produto, logo não deve estar à frente de uma empresa.

Segunda armadilha: querer ser patrão

Ser empreendedor não é ser patrão. Pelo enunciado não vejo qual a razão de ter de contratar um empregado, porque não programa o Zé? Falta de tempo? Existem 168 horas numa semana! Considerando uma média de 8 horas por dia a dormir ainda sobram 112, “gastem-se” mais 4 horas por dia noutras actividades e sobram 84… Ser empreendedor dá trabalho (e provavelmente insónias)!

Se o Zé tem realmente necessidade de ter um programador a tempo inteiro a trabalhar com ele, então o melhor será propor sociedade ao colega de universidade, dividindo assim o risco mas também os proveitos futuros. Ser empreendedor não é ser ganancioso!

Terceira armadilha:  achar que o negócio dá lucro logo no arranque

Salvo raras excepções, os negócios não dão lucro assim que arrancam. É necessário investir – nem que seja tempo, muito tempo – para depois colher lucros. Um negócio que não requeira um investimento considerável à cabeça e/ou alguns meses a dar prejuízo não tem risco, logo não é expectável que se encontrem por aí muitos. Se o Zé não tem dinheiro para se aguentar enquanto não aparecem mais clientes, então terá de recorrer ao crédito ou a um programa de incubação de empresas. Um empreendedor tem assumir que vai correr riscos!

Quarta armadilha: não contar com um advogado nem com um contabilista

Muitas das empresas que hoje fecham portas nunca tiveram aconselhamento de um contabilista nem de um advogado. Isto faz com que não estejam minimamente preparadas para lidar com uma série de questões que mais cedo o mais tarde lhes vão cair em cima. O Zé não quer ter custos. Um empreendedor sabe que para ganhar dinheiro tem de gastar primeiro!

Conclusão

Para ser empreendedor não basta vontade, é precisa muita vontade, e muito trabalho e uma boa dose de sacrificio. Portugal não precisa de um tecido empresarial conformista, nem de empresários que não estejam dispostos a dar corda aos sapatos.

Se o Zé considera que o seu produto tem realmente futuro – isto é, que o seu produto consegue atrair mais clientes – e quer mesmo ser empreendedor, então tem de correr mais riscos e caminhar uns kilómetros extra. Porque ser empreendedor não é só ter uma ideia e constituir uma empresa.

Eiffel 65 – I’m blue

Este blog tem sido vitima das redes sociais e da minha falta de tempo e paciência para escrever algo mais elaborado do que os breves comentários que vou espalhando nas mesmas. Ainda assim, mais de uma ano desde a última vez, heis que está de volta a música da semana.

Em conversa há pouco lembrei-me da expressão “I’m blue” e por consequência desta “bela” música que “bombava” forte e feio na altura das minhas primeiras saídas à noite.

Eiffel 65 – I’m blue